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CONGRESSO NACIONAL DO BB

Publico abaixo o documento que apresentarei no congresso nacional do Banco do Brasil, enquanto delegado do Estado do Rio de Janeiro.



BANCO DO BRASIL

XIX CONGRESSO NACIONAL DOS FUNCIONÁRIOS DO BB

Brasília, 24, 25 e 26 de Abril de 2009

DELEGADO: Samuel Braun – Rio de Janeiro

Ag.: 0127-9 - Campo Grande

Introdução:

Sou funcionário do Banco do Brasil há pouco mais de seis meses, entretanto venho de uma vida inteira – apesar de curta ainda – sempre vivida no setor público. Fiz meus estudos em colégios municipais, estaduais, técnico-estaduais e em universidade pública estadual. Tenho uma formação de vida e ideológica em defesa do Estado e da necessidade de colocar a frente de qualquer interesse particular os interesses da sociedade como um todo.

Desde novo milito em causas sociais, sejam elas estudantis, comunitárias, ecológicas ou trabalhistas. E é por causa disto que me propus, mesmo novo nesta instituição, me lançar a delegado ao Congresso Nacional dos bancários do BB.

Venho à este encontro no intuito de primeiro aprender com aqueles que já estão nesta causa há muito mais tempo, de trocar informações e melhor compreender toda esta realidade única que é representar a maior instituição financeira do país e uma das maiores do mundo, que não obstante ao seu tamanho e poderio capitalista, tem a obrigação de ser um poderoso agente social.

Em segundo, creio que posso contribuir positivamente com as discussões e decisões a serem apontadas neste encontro. Desta forma, não apenas como representante bancário do Rio de janeiro, mas como cidadão brasileiro, pretendo utilizar este espaço para lutar pelas medidas que acho urgentes e necessárias.


Quadro geral:

Antes de mais nada, é preciso ressaltar que o Banco do Brasil, ao contrário do que defendem aqueles que apenas representam os interesses dos exploradores e especuladores financeiros que há séculos dominam e amarram o Brasil, é um dos mais importantes agentes da sociedade para o combate à desigualdade e à injustiça social deste país. Não é apenas um banco com ações na bolsa que visa unicamente o lucro pelas vias selvagem-capitalistas que hoje mergulharam o mundo em mais uma de suas estruturais crises.

Recentemente vimos o sócio majoritário (como se referia ao governo o ex-presidente Lima Neto) dar um sinal prático inequívoco no intuito de recuperar este papel social do banco, buscando impor limites ao sistema financeiro nacional que de forma predadora submete o país a taxas de juros exorbitantes, com spreads abusivos e um oligopólio ameaçador á nação.

Não pretendo aqui entrar em discussões econômicas profundas, até porque não tenho formação e nem capacidade suficiente para tal, e também porque não faltam grandes exposições sobre isto, mas sim ressaltar a importância do momento em que nos encontramos e como é decisivo para os rumos que o Brasil e o mundo tomarão daqui pra frente.

Contrariando grandes postulados do Consenso de Washington, tida como a carta magna do neo-liberalismo que regia todo o mundo financeiro ate então, aquilo que muitos chamam de “Consenso de Londres” nada mais é do que o primeiro passo à uma outra realidade macroeconômica, no qual se tomarão em conta fatores maiores que os puramente técnico-contábeis na elaboração de políticas econômicas nacionais e mesmo de uma nova ordem financeira mundial.

Não é mais aceitável vivermos sob a égide de um sistema que deliberadamente fecha os olhos para suas falhas, que não percebe a fome, miséria e degradação que provoca aos quatro cantos do mundo, e que tenta anacronicamente transportar para o coletivo os postulados e motivações individualistas, predatórias e selvagens. Já há muito movimentos revolucionários, grupos pacíficos, pensadores, nações inteiras tentam, por diversas vias, responder à este sistema débil com uma proposta de uma nova organização social. E à estes os poderosos beneficiários do vigente sistema respondem com ceticismo e desdém, desqualificando as nova vias sem contudo conseguirem justificar minimamente a atual.

É óbvio que pela lavagem cerebral patrocinada por rios de dinheiro, pela vantagem de ser o sistema já estabelecido e pela convincente comodidade que impõe o não enfrentamento deste sistema, estes poucos conseguem submeter todo o resto da humanidade a uma luta pré-destinada ao fracasso na busca pela sobrevivência, onde aquele que consegue um fôlego a mais de dignidade, nem que passageiro, não só deixa de lutar pela mudança quanto passa a cegamente defender o sistema que o oprime.

E todo este quadro social e político que vivemos há séculos, vem recrudescendo ano a ano, tornando mais evidentes suas falhas e contradições. No Brasil, já estamos dramaticamente acostumados ao convívio pitoresco do rico com o miserável, do digno com o sub-humano, do justo com o impensável. Estamos também passíveis à ação dos defensores do “Estado de direito” contra os meliantes e baderneiros da justiça social.

Encerramos a assistência dos telejornais concordando com as vociferações dos caricatos baluartes do “Estado de direito (do capitalista)” mas com a estranha sensação de que mesmo concordando, somos nós as maiores vítimas deste suposto direito. Revolta-nos por vezes a ação de radicais que cometem crimes contra este “estado de direito”, mas em seguida nos vemos fazendo reivindicações que nos apontam invariavelmente como solução apenas os mesmos atos radicais.

Enfim, caminhamos para um despertar de consciência que deve colocar o país e o mundo num caminha totalmente distinto do qual percorre hoje.

E o Banco do Brasil, como dito, deve ser a mola propulsora deste novo pensamento no campo financeiro do país, servindo como exemplo prático de que uma nova política econômica é viável e necessária.


Os brasileiros do Banco:

Desde que entramos no BB ouvimos a frase “Funcionário pós 98”. E levamos isto com naturalidade, muitas vezes fazendo piadas da mesma. Entretanto, devemos atentar para a gravidade que ela representa, junto com seus efeitos práticos.

No fundo, isto representa um grave erro desta instituição pública sim, apesar do capital misto, que consegue colocar dois trabalhadores que desempenham o mesmo papel e função em situações totalmente diferentes, como se fossem de empresas diferentes.

A isonomia, preconizada como pré-requisito fundamental para uma entidade pública é simplesmente esquecida, e faz-se um “apartheide” entre funcionários antigos e novos e “semi-novos”.

Não obstante ao congelamento de salários jamais recuperados por mais de oito anos, que fazem da profissão de bancário do BB uma das mais sub-remuneradas relativamente, de uma política acumulação de tarefas e funções sem o equivalente ressarcimento (a famosa lateralidade), o banco propõe uma campanha que enaltece o funcionalismo do banco com a frase: “Nossas diferenças fazem a diferença”.

Realmente, como há diferenças! Tanto pra fora, quanto internamente.

Enquanto funcionário, associado da Previ (uma das ‘donas’ do banco) e sindicalizado, não compreendo como podemos admitir passivamente esta política mais perversa por vezes que a de outras instituições privadas.

Se compararmos o somatório de clientes do Itaú e Unibanco, que até hoje ensaiam uma fusão, e o de seus funcionários, e confrontarmos com o de clientes e funcionários do BB perceberemos uma realidade alarmante.

Enquanto o BB passou dos 32 milhões de clientes para cerca de 85 mil funcionários, o Itaú Unibanco somam cerca de 15 milhões de clientes para por volta de 120 mil funcionários. Com uma calculadora chegamos ao seguinte resultado: 376 clientes/funcionário no BB e 125 clientes/funcionários no Itaú Unibanco! Exatamente, três vezes mais trabalho para nós, funcionários do BB. E olha que estou comparando com bancos populares, imagine com outros mais elitistas (odeio esta palavra).

Enfim, soma-se a isso denuncias de assédio moral, de doenças causadas pelo estresse e pressão patronal, de LER e da implantação cada vez maior de um pensamento “de mercado”, que tirou totalmente aquele espírito de ser bancário do Banco do Brasil. Sim, pois antes era orgulho e status ter esta função, fazia realmente sentido a alegria de ser admitido para o BB. Hoje, contentamo-nos em dizer que “trabalhamos em banco”, e se argüidos, e somente se, dizemos que é do Banco do Brasil.

Nosso campo de luta portanto é amplo: Isonomia, respeito da carga horária legal, maiores comissionamentos e fim da lateralidade, mais convocações, aumento e recuperação salarial, dentre uma outra porção de medidas urgentes e importantes.

E é por isso que devemos somar esforços para amadurecer as idéias, fortalecer a conscientização e partir para o campo da ação.


Engajamento:

Evidentemente para conseguirmos colocar em prática as transformações que destacamos, é necessário o engajamento dos funcionários do BB. Não basta a canetada do sócio majoritário (leia-se: Governo Federal), ou a pressão de alguns diretores sindicais. Somos o banco com o menor índice de sindicalizados, fato muito controverso que costuma ser atribuído à semi-estabilidade que possuímos no emprego.

Este é um fato que deve ser analisado com cuidado e atenção. Mostra ao mesmo tempo que deve-se buscar fortalecer a presença do BB nos sindicatos bancários, mas também que estes devem procurar contemplar melhor as necessidades do funcionalismo do BB.

E é por isso que eu anseio que este encontro nacional seja apenas um primeiro passo na trajetória de formação de grupos de discussão, nos quais os funcionários, sindicalizados ou não, novos ou antigos, comissionados ou não, se unam para buscar meios de lutar por um resgate do BB; um resgate do que foi perdido neste tempo, e um apontamento para novos caminhos que a realidade nacional e mundial exigem.

Por tudo isso, eu estou dando a minha contribuição neste processo, desejando ardentemente que outros mais unam-se nesta causa.

Propostas básicas:

1) Aumento das dotações, mais contratações e menos terceirizações;

2) Democratização das metas e punição para o assédio moral;

3) Elevação do piso salarial, levando em conta as perdas e retorno do anuênio;

4) Fim da lateralidade e retorno das substituições;

5) ISONOMIA plena para os funcionários pós-1998;

6) Novos planos de cargos e salários e de cargos comissionados, com base no piso gradual do DIEESE;

7) Melhoria dos benefícios indiretos (tíquete, cesta, creche);

8) Jornada de 6 horas para TODOS, proibição da 9ª e 10ª hora extra;

9) Dois turnos de trabalho, levando a contratações e substituições;

10) Implantação imediata do plano odontológico;

11) Um delegado sindical por agência (como na Caixa);

12) Plano de ampliação da base sindical e reaproximação deste aos funcis do BB;

13) Definição de uma função social clara do banco, que deve capitanear uma nova política financeira nacional;

14) Redução dos juros e spreads.

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