'A hora do rush'
Esta semana a galera da UERJ que vem e vai de trem sofreu bastante. E não só ela, como todos na cidade do Rio.Não é novidade nenhuma a precariedade dos transportes públicos do Rio de janeiro. Apesar de ser uma responsabilidade exclusiva do poder público, ou seja, do Estado e do Município, foi escolhido o caminho da terceirização, ou melhor, das concessões privadas. O Metrô, as linhas de ônibus, as barcas e o trem estão todas nas mãos de uns poucos empresários.
E, contrariando o “saber popular”, que poderíamos chamar de tabu do capitalismo, a privatização de um serviço essencial é uma completa catástrofe. Explicando melhor: Tudo aquilo que é essencial no entender das leis representa atividades, bens ou condições que são indispensáveis para o funcionamento de toda a sociedade, e para a preservação dos direitos básicos do ser humano. Ou seja, a educação, a saúde, a segurança e o transporte (dentre algumas outras coisas).
O que acontece é que a iniciativa privada não leva (e nem tem a essência de levar) em conta esta função social da atividade que desempenha. Para ela, representante do sistema de pensamento da concorrência de mercado, o que interessa é o lucro. No máximo, considera a possibilidade de fidelização do cliente e do bom marketing. Daí decorre a superlotação, a imposição de horários e trajetos, a exclusão e sub-atendimento de certas localidades e a prática de preços superfaturados.
Afinal, apesar de ser de todos o direito de ir e vir, apenas os que podem pagar (caro) e os que moram (bem) no trajeto destes meios de transporte efetivamente podem exercer este direito.
Esta semana os ferroviários entram em greve para denunciar as péssimas condições da supervia, com trens enferrujados, superlotados, viajando com portas abertas, enguiçando, parando de circular sem aviso prévio. E claro, exigindo mais segurança, mais contratações e melhores salários. Em resposta a isso, a supervia submeteu os passageiros (leia-se: cidadãos, reais donos desta concessão e que ainda pagam pra viajar) ao cúmulo da humilhação.



Os trens, assim como a maior parte dos transportes foram privatizados aqui no Rio na época de Marcello de Alencar (PSDB), no intuito de capitalizar o governo, desonerar a máquina pública, melhorar e modernizar o sistema de transportes e permitir a livre concorrência neste ‘mercado’. Mas o que ocorreu foi que o governo dele terminou com déficit, mesmo vendendo as barcas, os trens e o metrô, não desonerou a máquina pois foi do governo todo o investimento em recuperação das estradas, estações, etc (principalmente nas barcas e metrô), a modernização que houve foi toda bancada e articulada pelos governos, e não pelas concessionárias e o mercado ficou totalmente monopolizado, sem qualquer concorrência.
Hoje, o metrô anuncia sarcasticamente que está nos levando para o futuro, com mais espaço e mais moderno, mas na verdade é um eufemismo pra dizer que está tirando assentos pra caber mais gente se esmagando em pé. O metrô alardeia a facilidade e velocidade de viajar de trem, quando na verdade é um dos transportes mais descontrolados, apertados, perigosos e desrespeitosos com os passageiros (principalmente os deficientes e idosos).
Os ônibus são um caso a parte, e sobre ele farei matéria especial em breve. Mas o que realmente nos importa é destacar que o Rio precisa urgentemente de uma reorganização geral nos transportes. Preferenciar o transporte coletivo, em detrimento as superlotações das ruas com carros, vans e micros, investir no metrô e trem de verdade, não como é hoje, construindo uma estação a cada 5, 6 anos. Rever estas concessões, repassando-as com a obrigatoriedade de expansão financiada pelas concessionárias em um curtíssimo espaço de tempo, ou reassumindo o Estado o papel de gestor dos transportes.
Este é mais um dos fatos interessantes. Hoje, para ser uma concessionária, só precisa ter boa relação política e uma equipe técnica razoável para gerir o que já existe. Ou seja, os alunos da UERJ mesmo, se bem bancados politicamente, poderiam juntar engenheiros, economistas, advogados, administradores, gestores de políticas públicas (cientistas sociais, historiadores, etc), constituir uma empresa e tocar uma rodovia com pedágio, empresa de trem, enfim. Afinal, as concessionárias assumem, cobram pedágios, passagens e tudo mais durante décadas e investem 1% disso depois de anos. Que dificuldade!
É óbvio que exagerei na proposição da empresa uerjiana, mas de fato é isso. O carioca e o fluminense estão entregues a própria sorte. Governos saem e entram e nada fazem. Propostas de corredores expressos, articulação de ônibus, trens e metrô, criação de corredores T5, etc, etc, mas nada sai do papel.
E a questão lá do inicio persiste. Disto tudo, só restarão notas em jornais, puxões de orelha na concessionária? A concessão continuará nas mãos desta empresa? E o que fizerem os alunos da UERJ que dependem do trem esta semana? Foram chicoteados também? E a noite, como voltaram? Afinal, o trem parava as 9 da noite.
Uma coisa é certa, se acamparam na uerj, não foi na reitoria.
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