As mudanças na política do Rio
Análise das eleições no Rio de Janeiro e o cenário político a partir de agora.

Devo inicialmente destacar o fiasco da oposição sangue-puro do Rio, ou seja, PSDB e DEM. Além de César Maia não ter ficado nem entre os três primeiros e quase ter sido ultrapassado por Waguinho na disputa pelo Senado, os dois partidos perderam, juntos, 3 deputados estaduais, de 8 para 5 (4 do PSDB e 1 do DEM) e praticamente sumiram da relevância da ALERJ.
O PV, que apesar das alianças recentes, não pode ser colocado no mesmo nicho oposicionista, ainda mais depois da votação nacional de Marina e do protagonismo de Gabeira como maior candidato de oposição do Rio nos últimos anos, abocanhou 2 vagas (antes não tinha nenhuma) e ficou aquém do que eu esperava, umas 3 ou 4. Faltou um puxador de votos estadual, e Gabeira não se empenhou (possivelmente por restrições da aliança com DEM, PPS e PSDB) em pedir votos para seus candidatos na ALERJ.
O PR talvez seja o novo grande líder oposicionista, já que elegeu 8 deputados, sendo a 3ª maior bancada, e tem em seus quadros Clarissa Garotinho, filha de Anthony Garotinho, que eleito deputado mais votado da história do Rio para a Câmara Federal, prepara sua possível volta ao governo do Rio daqui a 4 anos.
O PMDB, do governador Cabral perdeu quase 40% de seu tamanho. Caiu de 19 para 12 deputados, e também seu grande líder, Jorge Picciani que não conseguiu se eleger para o Senado. Agora, Cabral dependerá e muito de seus aliados, como o PDT e o PT, além dos outros 13 partidos que oficialmente lhe apoiaram na reeleição. Entretanto dentre os eleitos por esses partidos existem desafetos e inimigos declarados de Cabral, assim como existem, nas fileiras da oposição, aliados seus. Digamos que os dois se equivalham, mesmo assim, o PMDB perdeu 7 deputados.
O PDT, um dos aliados ao Governador, se catapultou para a 2ª maior bancada com 11 deputados, puxado não pelo Bebeto ex-jogador de futebol, mas por Wagner Montes (que quase foi lançado candidato contra Cabral ao Governo). Deputado mais votado para o cargo no Rio, Wagner arrastou um monte de deputados, e dentre eles estão Paulo Ramos e outros que não querem nem ouvir falar de Cabral. Aliás, este aliança com Cabral foi empurrada pelo comando nacional do partido, por obra e graça de Lupi, contrariando a maioria da base pedetista, que nas urnas se dividiu e deu muitos votos ao candidato Fernando Peregrino, do PR, aliado histórico de Brizola, Darcy Ribeiro e Garotinho.
O PT, apesar de ter subido de 5 para 6 o número de deputados, foi um dos que mais saíram prejudicados desta eleição. Alijados e traídos muitas vezes durante o governo de Cabral, os petistas tiraram Lindberg da disputa ao governo, garantindo assim a vitória de Cabral, e não conseguiram barganhar politicamente com um governador que se acha todo-poderoso. Além disso, num ano onde Lula e Dilma estavam elegendo qualquer coisa em qualquer lugar, bastando apenas dizer que era candidato do Lula, o partido praticamente não alterou seu tamanho. N decorrer da campanha, o horário eleitoral do PT estava ali, perdidinho no meio da máquina do PMDB, e os inúmeros candidatos da oposição, seja ela do DEM, do PV ou do PR. Sem um lado certo, e sem se posicionar sobre os temas do Estado, o PT só não se saiu pior porque alguns foram felizes em colar sua imagem com a de Lula.
Os demais partidos não mudaram muito, e continuarão flutuando entre ambos os lados, pendendo para o de Cabral por causa da possibilidade de conseguirem mais verbas para suas bases.
O apoio do PT a Cabral parece ter realmente sido um grave erro. Se o PT lançasse Lindberg para Governador e Benedita ao Senado, teria garantido também a vaga pro Senado (talvez não em primeiro, mas Lula bancaria o senador de seu partido aqui no RJ) e certamente teria levado a eleição pra Governador pro segundo turno. Neste segundo turno, mesmo que Lindberg não estivesse nele, o PT poderia colocar a disposição, à preço de ouro, o cerca de 20% de eleitorado que SEMPRE tem no Rio. E numa hipótese melhor, poderia mostrar para a população, com o apoio de Lula, Dilma e de uma rede de alianças que desfalcaria Cabral consideravelmente, que Lindinho era o candidato ideal para conduzir o Estado aliado ao Governo Federal e Municipal nos próximos 4 anos.
Afinal, Lindberg candidato ao Governo mudaria tudo. Cabral não conseguiria fechar metade de suas alianças. Cabral não teria nem o apoio de Lula e Dilma, nem mesmo o discurso de ser o candidato da união dos 3 níveis de poder. Sem este poderio, seu governo catastrófico teria sido evidenciado, e levando pancada do Peregrino, do Gabeira e sendo contraposto por Lindberg, talvez não tivesse nem ido ao segundo turno. Vejam pois o tamanho do erro do PT, que se acha que Cabral apoiará Lindberg em 2014 está bem enganado, afinal Eduardo Paes está sendo construído para isso, e Picciani vai ficar agora sem cargo por 4 anos, com muito poder na mão, afinal é ele e não Cabral que manda no PMDB do Rio.
O PDT teve possibilidades de fechar um acordo com PR e PRB e lançar um candidato, seja ele Wagner Montes ou Garotinho, mas tanto o PDT quanto o PR acertaram em suas estratégias de fugir deste embate infrutífero, pis o único que poderia ferir mortalmente Cabral seria o PT de Lula. O PDT fez a segunda maior bancada da ALERJ, e o PR a maior bancada pra Câmara Federal (o que determina o tempo de TV na campanha daqui a 4 anos).
E o PT, o que fez? Reelegeu Cabral, um exímio traidor, que agora acha mais do que nunca que não precisa do PT e nem de nenhum outro partido, e se viu ficando pra trás na ALERJ e na bancada Fluminense da Câmara Federal. Pagaram esta conta, de imediato, os candidatos do partido a Deputado Federal: Biscaia, Marcelo Sereno, Chico Dangelo, Eliane Rolim, Carlos Santana e Vladimir Palmeira, que tinham reais chances de serem eleitos, caso o PT não tivesse o pífio desempenho de apenas 5 deputados federais eleitos.
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