Postura do PMDB é de usar o PT como burro de cargas', diz Molon
RIO - Principal crítico da aliança de seu partido, o PT, com o PMDB no Rio, o deputado federal Alessandro Molon chegou a fazer um ato contra a união. No dia em que petistas anunciaram o nome do vereador Adilson Pires como vice na chapa do prefeito Eduardo Paes, que tentará a reeleição, ele causou mal-estar ao dizer, diante de Paes, que estava descontente com a coligação. Ao GLOBO, Molon fala sobre a crise entre os dois partidos e, entre críticas à postura do PT e do PMDB, dispara:
Para ele, o PMDB já antecipa 2014, quando deve lançar o nome do vice-governador Luiz Fernando Pezão à sucessão de Cabral. Por isso, desde já, o partido comandado no Rio por Jorge Picciani já estaria tentando dificultar a vida dos petistas, que deverão ser representados pelo senador Lindbergh Farias na disputa pelo governo do estado.
Abaixo, os principais trechos da entrevista:
O GLOBO: O senhor acredita que o PMDB do Rio tenta sufocar o PT fluminense?
ALESSANDRO MOLON: Eu não tenho dúvida. Eu tenho defendido que o PT saia dos governos estadual e da capital e passe a agir da forma que a militância do partido espera dele. Quando fizemos o ato, as pessoas estavam lá para dizer que não querem o PT na aliança, porque entendem que esses governos menosprezam a Saúde, a Educação, etc. O Rio poderia aproveitar os megaeventos que vão acontecer, para dar uma condição de vida melhor à população, mas está com foco apenas no evento. Está favorecendo apenas empresas de ônibus e a especulação imobiliária.
O GLOBO: Alguns dizem que o senhor quer ser candidato a prefeito do Rio...
MOLON: Acabei o primeiro ano do meu mandato de deputado federal, estou como titular na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ), a mais importante da Câmara. Considero que a minha principal tarefa é fazer o melhor como deputado. Quero deixar claro: não é um projeto pessoal que estou defendendo. Quero que o PT saia dessa relação de subalternidade. Acho que a maior tarefa do PT como partido que quer representar a população é se perguntar o que ela quer neste momento. Isso não é um projeto (disputar as eleições este ano). Não estou fazendo isso porque quero ser candidato.
O GLOBO: Se o senhor não quer disputar e, ao mesmo tempo, quer candidatura própria quem poderia concorrer com Paes?
MOLON: O PT tem excelentes nomes para disputar. Não é o meu momento de concorrer. É momento de ser deputado federal, honrando o fato de ter sido o parlamentar do PT mais votado do Rio.
O GLOBO: Que nomes são esses que podem disputar pelo partido?
MOLON: Prefiro não chutar nenhum específico.
O GLOBO: Uma ala do partido reclama da falta de comprometimento do PMDB, porque vão apoiar o partido de Cabral em pelo menos 20 municípios e a contrapartida só vem em quatro. O que o senhor acha?
MOLON: O PT do Rio está adotando uma linha equivocada. Isso tem distanciado o partido do seu eleitorado. E vai nos enfraquecer. Por exemplo, em 2002, elegemos sete deputados federais. E, 2006, foram seis e, em 2010, foram cinco. Ou seja: em cada eleição, o PT do Rio perde uma cadeira. Em 2002, foram oito deputados estaduais eleitos. Quatro anos depois, o partido elegeu seis e, em 2010, também elegeu seis, mas com menos votos. Isso mostra que essa linha (de aliança com o PMDB) está enfraquecendo o PT e está distanciando o partido do eleitorado.
O GLOBO: O apoio do PMDB ao PDT em Niterói aumentou a insatisfação?
MOLON: A insatisfação, sem dúvida, aumentou porque a postura do PMDB do Rio é de usar o PT como burro de cargas. Acho que o PT está se permitindo ficar numa posição subalterna e aceitando esta posição que o PMDB tenta lhe colocar.
O GLOBO: O que este apoio ao PDT e não ao PT em Niterói representou?
MOLON: Isso é um sinal de que a lógica que o PMDB está usando não é a lógica de 2012 e sim de 2014. Quando eles apoiam a reeleição do Jorge Roberto Silveira, fazem isso para se aproximar do PDT e para atraí-lo para apoiar o Pezão em 2014.
O GLOBO: A falta de reciprocidade é um sinal de que o PMDB quer sufocar os petistas?
MOLON: Evidentemente isso não é uma aliança. A aliança não deveria existir porque não tem um programa comum. É por isso que defendo o fim da coligação. O que os partidos se propõem a realizar é diferente. A postura do PMDB é de impedir o crescimento do PT. O PMDB quer o PT como um partido subordinado quando, na verdade, o PT do Rio tem que ser uma alternativa.
O GLOBO: O senhor acha que o PMDB já começou a estratégia de enfraquecer a candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo do estado na próxima eleição?
MOLON: Não há a menor dúvida de que isso é antecipação de 2014. O PMDB não quer que o PT vença este ano (nas prefeituras) porque isso facilita em 2014 para eles.
O GLOBO: Alguns petistas dizem que essa postura do PMDB é, na verdade, de Picciani. Alegam não saber a opinião do governador e do prefeito Eduardo Paes...
MOLON: Se o governador e o prefeito discordam daquilo que o presidente faz por que não se manifestam publicamente? Por que não dizem "nós não pensamos isso"? Mas o presidente do PMDB fala e os outros dois se calam... Quem cala consente.
O GLOBO: O que o senhor pensa do Picciani?
MOLON: Sinceramente, tenho coisas mais importantes com as quais me preocupar. Sempre tive divergências explícitas com ele.
O GLOBO: A reunião ocorrida nesta terça-feira ajuda a acalmar os ânimos?
MOLON: Acredito que solução para o PT fluminense é sair dos governos e se reencontrar com a militância.
O GLOBO: Mas acha que a ruptura com o PMDB pode acontecer?
MOLON: Acredito que isso é possível, mas ainda não é uma posição majoritária, infelizmente.
O GLOBO: É possível que o PMDB repita este ano com o PT o que fez em 2008 (na ocasião, os partidos tinham uma aliança, mas os peemedebistas lançaram o nome de Paes de última hora), deixando o PT desarticulado mais para frente?
MOLON: Não há a menor dúvida de que, na reta final, eles podem falar: "mudamos de ideia. Vamos ter um vice".
O GLOBO: O senhor defende o fim da aliança também em nível nacional?
MOLON: O apoio que o PMDB dá para o governo Dilma é importante. Acredito no programa do governo Dilma, mas não acredito no programa do Cabral e do Paes.
O GLOBO: O Diretório Nacional já se manifestou sobre sua posição?
A direção respeita, mas diverge da minha opinião.
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