O debate da Band.


O debate da Band.

Na minha avaliação, os grandes vencedores deste debate foram José Serra e Plínio de Arruda Sampaio, e a grande derrotada foi Dilma Roussef. Marina apenas perdeu uma grande chance de se mostrar como o diferencial, uma terceira via. E isso, era tudo que ela poderia esperar pra sua campanha... portanto, perdeu muito também.

Dilma Roussef demonstrou claramente que não sabe se portar na frente das câmeras e num debate. Gaguejou, repetiu a palavra “questão” mais de 10 vezes em menos de 2 minutos e em todas as suas falas, virou de costas e de lado para a câmera e só olhou “no olho” do espectador após 1 hora de debate (e possíveis puxões de orelha dos acessores). Em certo momento Plínio chegou a externar o que estava latente, que parecia que a candidata do PT, que melhor defendia o governo e melhor representava a filosofia política petista era Marina Silva.

No momento mais favorável à Dilma, quando da pergunta de um jornalista sobre as privatizações, e que era a hora de Dilma se diferenciar de Serra e acusá-lo de privatista, ela conseguiu ficar na defensiva tentando se explicar sobre suposta afirmação sua favorável à privatização das telecomunicações, que Serra recordou. Serra conseguiu sair de acusado para acusador.

Dilma também não conseguiu apresentar nenhuma proposta que ficasse na cabeça do telespectador. Apenas falou de UPP e UPA, e deu outros nomes à propostas apresentadas por Serra e Marina. Um desempenho pífio, para não dizer assustador e vergonhoso da candidata que representa um dos melhores, se não o melhor, governo brasileiro, com recordes de aprovação e com quase todos os números favoráveis, e que está liderando todas as pesquisas. É inequívoca prova de sua inexperiência e falta de habilidade política-eleitoral, que ela terá pouquíssimo tempo para corrigir.

José Serra foi no caminho seguro. Não se arriscou, não saiu em defesa do governo FHC, apenas de suas ações naquele governo e de seu governo em São Paulo. Não foi também confrontado em nada, tendo tido amplo espaço para atacar Dilma de forma tão sutil que não lhe tirou a áurea de superior, melhor, que deseja passar. Se prendeu demais ao tema de saúde, que provavelmente irá explorar bastante por sua atuação positiva quando ministro desta área.

Serra provavelmente foi quem saiu efetivamente melhor deste debate, pois conseguiu desestabilizar sua adversária principal, permaneceu e reforçou sua tese de que ele pode fazer mais, que é mais experiente. Conseguiu até desfazer um pouco a imagem de sério, carrancudo, quando citou sua filha, sorriu abertamente e até chorou citando um passado pobre que quase ninguém tinha ouvido falar de sua vida.

Marina Silva, como disse, perdeu em não saber ganhar. Entrou e saiu do debate incólume. Quem a apoiava teve a certeza de que ela é uma ba candidata, muito concisa e coerente, e que conhece bastante da máquina pública nacional, não é uma aventureira. Mas sua missão no debate não era essa. Era se colocar como uma terceira via, uma alternativa, se diferenciar de Dilma e Serra. Sua missão era arrebanhar os votos que Dilma deixou pra trás neste debate, não sabendo se colocar como mulher e candidata do governo. Marina não conseguiu se sobressair muito por causa de Plínio Arruda, que com um discurso forte, e uma habilidade típica dos debates antigos, bem cênico, atraiu a atenção.

Marina em certos momentos parecia ser realmente a candidata do PT, do governo. Sabia dados importantes do governo, defendeu ações deste governo, falou uma linguagem de esquerda que soa muito mais parecido com o ideário do PT do que o tecnicismo e economicismo de Dilma. Marina conseguiu consolidar sua posição de mulher, evangélica e ambientalista, apesar de ter falhado em não ter feito analogias e metáforas que fizessem os eleitores perceberem isso de forma mais marcante.

Plínio Arruda Sampaio foi uma grata surpresa. Não que duvidasse de sua capacidade intelectual, mas sim de seu vigor físico e velocidade de resposta. Sua pequena tradição em debates também não revelava um debatedor tão afiado como foi neste. Soube em todas as falas destacar qual era sua diferença pros demais. Não há, penso, ninguém que tenha visto o debate com atenção que não tenha saído dele sabendo porque aquele velhinho é diferente dos outros. Se o discurso de esquerda radical, tradicional e bem estudado fará efeito nesta massa de eleitores desacostumados com este panfletismo, isso não sei, mas certamente ele conseguiu se colocar como alternativa para o voto de opinião, e para o voto de protesto também. Sua postura de socialista típico, defendendo terras pra todos (sem contudo ter conseguido mostrar para o urbanizado brasileiro qual importância disso), emprego e divisão de renda, assim como a substituição quase imperceptível da palavra socialismo pela palavra justiça social, ou igualdade social, o conduziram ao personagem mais interessante do debate. Eu terminei o debate associando sua imagem à palavra igualdade, de tanto que ele a usou. Ele conseguiu interagir com o telespectador. Usou de recursos neurolinguisticos, fazendo quem estava em casa imaginar um muro (que separa os pobres dos ricos), ou fazendo convincentemente que fosse visto uma semelhança entre Dilma, Serra e Marina e uma diferença nele para os demais. Usou um tom mais descontraído, chamou Serra de hipocondríaco, ignorou Dilma claramente e nomeou Marina como representante do PT, além de taxá-la de capitalista.

Foi agressivo, mas com classe. Se arriscou, mas compensou isso deixando claro ao público que fazia isso porque era preterido nos debates. Pra um senhor de praticamente 80 anos, se mostrou um sábio (que de fato o é) e um destemido, ma medida que foi o único que se expôs, coisa que Marina não teve audácia de fazer.

De resumo, fica a decepção com Dilma, e o medo de que ela acabe elegendo Serra mesmo com tudo a favor dela; um reconhecimento da habilidade de Serra de posar de democrata e de colocar irretocavelmente sua tática de parecer mais preparado em ação; uma grata surpresa de ver um debate sociológico de profundidade trazido a debate por Plínio, e de forma tão fluida e fácil, e uma incógnita de como Marina se portará daqui pra frente pra não perder o bonde da campanha, pois ela tem que fazer o Brasil conhecer quem ela é, já que só 5 a 10% do país sabem o que ela representa e quais são suas propostas.

Aguardemos a próxima pesquisa eleitoral para repercutir em números este que além de ter sido apenas o primeiro debate, com o clima eleitoral ainda morno, foi também muito prejudicado pela concorrência do jogo da semifinal da Libertadores entre São Paulo e Internacional.

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