Movimento Zona Oeste

Mapa do Rio: Esqueceram a Zona Oeste... mas lembraram da Barra.





Começo aqui uma campanha em defesa da Zona Oeste de fato, aquela composta por bairros tradicionais como Realengo, Bangu, Campo Grande, Santa Cruz, e suas circunvizinhanças, tais como Santíssimo, Inhoaíba, Cosmos, Paciência, Sepetiba, etc. Estes bairros que compõem a verdadeira Zona Oeste, e não aquela que os governos usam para dizer que fazem algo pela região: Barra e Recreio.

Não que a Barra e o Recreio não pertençam à Zona Oeste no nosso mapa, mas de certo não são de forma alguma pertencentes à mesma realidade social, política e econômica. Não é mais cabível que os governantes digam que investiram milhões na região, quando de fato, foi investido apenas na Barra da Tijuca, e nada em Campo Grande ou Bangu.

A prefeitura, que hoje está sob a administração de Eduardo Paes (PMDB) classificou a região como “Assistida”, e separou a Barra e Recreio como “Regulada”. Ou seja, a própria prefeitura reconhece a existência de duas Zonas Oeste, uma tradicionalmente reconhecida como carente, abandonada, descuidada pelo poder público, e outra, a Barra e Recreio, superabundante em investimentos, hospitais, escolas, serviços, assistências, para onde todos os investimentos atuais, sejam públicos ou privados, convergem naturalmente.

É de maior destaque ainda a consciência coletiva, recentemente avalizada pelos governantes, do projeto de Lucio Costa de transformar a Barra no novo centro da cidade, deslocando-o da atual localização, próximo da Baia de Guanabara.

Nós, moradores, defensores e militantes em defesa da Zona Oeste, com claridade de nosso papel social, que é de desfazer e minimizar os males históricos a nós impostos por todos os governantes que já passaram, sejam no Estado, no Município, ou seja na época que éramos capital federal, somos favoráveis à descentralização econômica, política e social da cidade, que hoje vive encurralada entre a Rio Branco e a Presidente Vargas, em prol de uma maior divisão do produto social e cultural da cidade com todos os cidadãos, em especial os moradores da Zona Oeste, sempre preterida em nossa história.

Somos também favoráveis a inserção de nossa cidade cosmopolita na modernidade, com espaços mais planejados, transportes organizados, integrados com o plano diretor em desenvolvimento, e ao mesmo tempo, garantindo a preservação do patrimônio histórico e arquitetônico que temos nas ruas do centro do Rio.

Mas estamos atentos e preocupados com os desdobramentos que essas mudanças parecem tomar. É com muitas dúvidas que acompanhamos os projetos anunciados por conta da Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, que não incluem em nenhum momento toda este região da cidade, que representa mais de 40% de seu território total. É com pasmo que verificamos que todos os projetos parecem apontar para a Barra e o Recreio, sem incluir Campo Grande, com seu meio milhão de habitantes, ou Bangu e Santa Cruz, com outro meio milhão, em nenhum projeto urbanístico, de transportes, edifícios ou aparelhos públicos, tais como escolas, hospitais, áreas de esportes, enfim, totalmente esquecido e abandonado.

E é com indignação que denunciamos as declarações das autoridades públicas que alegam que estes eventos serão divisores de águas na cidade, tirando-o de longos anos de abandono e desordem, e colocando-a no futuro ordenado e próspero. E a Zona Oeste? Será deixada para trás, no século passado? Será extirpada do progresso da cidade? Voltará a ser a Zona Rural, dormitório para a classe pobre que serve os senhores da Zona Sul?

E denunciamos também um movimento automático que se desenvolverá caso nada seja feito: o de favelização da Zona Oeste. Enquanto a prefeitura se preocupa em derrubar edifícios irregulares (invariavelmente na Barra) e o Estado em ocupar favelas com sua “pacificação”, a concentração econômica e comercial da Barra trará para os bairros próximos o exército de trabalhadores desfavorecidos, e sem planejamento ou ordenamento urbano por parte dos órgãos públicos, o que veremos é a construção de milhares de moradias irregulares, sem saneamento básico, saúde, educação, transporte ou segurança.

Construir gigantes arquitetônicos como a Cidade da Música e outros é bonito e traz votos, mas é necessário se importar com os efeitos colaterais. Se haverá um “bum” de crescimento na região da Barra e Recreio, o que será feito com os novos habitantes e transeuntes da região? O que será feito com o acréscimo na poluição do ar, das águas, do som? E com o trânsito, com a segurança?

Enfim, é neste intuito que este movimento está sendo lançado; Não em criar uma rivalidade entre os moradores das diversas regiões da cidade, mas sim em lutar contra as desigualdades a que são submetidos os habitantes da Zona Oeste. E esta empreitada será levada a diante através de estudos das verbas que serão aplicadas para a realização tanto da Copa do Mundo como para as Olimpíadas, assim como o desenrolar do Plano Diretor da cidade, a averiguação do que está sendo destinado para a região e para as demais da cidade, da mobilização social, através de associações, ongs, etc, e o acompanhamento das audiências públicas e da atuação dos parlamentares.

Este é um movimento suprapartidário, destituído de qualquer caráter religioso, racial ou qualquer sectarismo social, e visa agregar, produzir e disseminar informações a respeito da Zona Oeste, sempre em sua defesa.



Rio, 29 de Setembro de 2009



Samuel Braun P. Lima

Bancário, Sindicalista e Sociólogo

0 comentários:

Blogger Template by Clairvo