Orlando e Lupi x Cabral. Dois pesos e duas medidas da imprensa e da política

Desde o caso do ex-ministro Orlando Silva tenho pensado neste assunto, e agora com as baterias sendo voltadas para o Ministro Carlos Lupi, o assunto se torna novamente atual.
Anthony Garotinho fez um post hoje que toca nesta ferida: Porque o que vale para toda a classe política nacional, nunca vale para a turma do PMD/RJ?

Pois vejamos, quem nao consegue fazer mentalmente uma lista rápida de nomes de políticos que nos últimos 5 anos foram "condenados" pela mídia e julgados pelas suspeições. Vivemos num ambiente tão corrupto e tão naturalizado quanto à isto, que como válvula de escape e mecanismo de defesa inconsciente, taxamos qualquer suspeição ou denúncia como fato irrefutável, pelo simples fato de alguém ter dito. Mas não basta ser dito, tem que ser repetido pelo menos por uns 3, 4 dias pelos jornais, e principalmente pelos telejornais e seus âncoras.
Pronto, a partir daí, o Deputado é ladrão, o ministro é corrupto e o senador é safado. Mas ele prova, com provas materiais, que não estava no local, que não sabia, que não era nem nascido na época! Pouco importa! É safado, tá apenas inventando uma desculpa esfarrapada.

É o que os partidários do Lupi estão chamando de "denuncismo". Mas estes são os mesmos que chamaram (e chamam) os José Dirceu de ladrão, chefe de quadrilha, mesmo sem ter condenação contra ele. Essa é nossa forma de ser, é involuntário, descarregamos nossa impotência num sonoro "SAFADO, LADRÃO!". Não acreditamos nas instituições, não cremos no devido processo investigatório. As instituições são nosso problema, mas não as questionamos, é mais prosaico questionar o Tiririca, o Lupi...

Enfim, é de nossa cultura o pré-julgamento. E isto subsidia que nossa imprensa retro-alimente esta prática. Por outro lado, temos nossa estrutura jurídica que prevê que ninguém é culpado até que seja julgado e transitado em julgado, ou seja, que tenha esgotado todos os recursos possíveis previstos. E como ninguém pode ser considerado culpado até julgamento final, também não pode ser preterido ou ter retirado qualquer direito até então.

Diante dessa oposição cultura x legislação, é óbvio que a última prevalece até que a primeira tome força para mudar a segunda. Ou seja, até que a cultura faça nossas leis mudarem.

Mas não quero entrar no debate sobre a validade da presunção da inocência ou não, mas sim em como nossa classe política e midiática é hipócrita e seletiva na aplicação deste traço cultural.

Vejam o caso dos citados ministros. Um caiu, o outro está caindo, sangrando... vai cair, inevitavelmente. E ai da presidente se não o tirar, e ai do PDT se o defender acima de tudo. O senso comum já definiu que mantê-lo ou defendê-lo é manter e defender um corrupto. Como e porque ele é corrupto não importa, está em tudo que é lugar que ele é corrupto e isso basta. O preceito da presunção da culpa implantado pela mídia já prevaleceu.

Mas no Estado do Rio nós temos um exemplo raro. Uma espécime em extinção: Um político honesto! Tão honesto que nem as provas provam que ele é corrupto. Tão inocente que não se presume a inocência, se impõe pelo silêncio. Ele pode fazer tudo que aos demais é considerado crime mesmo sem fazerem ( ou mesmo sem que se prove que fizeram).

O Lupi é suspeito de ter viajado num aviâozinho pago por uma ONG, à serviço. Esta ONG tem convênio com o ministério dirigido pelo nobre ministro, e por isso, só por isso, é crime e ele deve sair pra sempre da vida pública. E pior! Ele disse qe não viajou e está sendo intimado a depor no Congresso várias e várias vezes. Tá sendo "presenteado" com a capa de todas as revistas do país, estampando diariamente os jornais e sites. É o inimigo do Estado agora, o "povo" clama sua queda. O pais deve parar até então. Obstrua-se a pauta do Congresso. Invoque-se a memória de Brizola e falem em nome dele pedindo, não, melhor, exigindo a queda do ministro.

Quanto ao político honesto do Rio de Janeiro, bem, ele é apenas o Governador do Estado. E mantém contratos milionários, melhor, já são bilionários, com uma empreiteira, todos eles, ou em sua maioria, sem qualquer licitação. na base da confiança, da "urgência". Nos momentos de sua folga, o Governador pega sua família, amigos, "amigos dos amigos" e embarca todo mundo no trem da alegria, quer dizer, no avião do amigo empreiteiro,e vai para um resort de outro amigo. também empresário e também beneficiário de contratos "da china" com o Governo do Estado.
Em relação à esse, nenhuma capa de jornal; nenhum artigo sequer. Nenhuma instituição como Senado, Ministério Público, Polícia Federal, TCE ou CGU. A imprensa ignora peremptoriamente a existências destes fatos e os esconde da população que, ignorante, não exige sua cabeça.
Alguns poucos deputados tentam alertar, cobrar, fazer as instituições funcionarem, mesmo que a força. Mas a classe política estranhamente não deseja desgastar a imagem deste homem. O presidente da ALERJ arquiva os pedidos de esclarecimento, ignora até as intimações judiciais interpostas pelos deputados arguintes. O presidente da Câmara dos Deputados também ignora os pedidos de investigação feitos por alguns deputados federais. Será que até a justiça acreditará na inocência inconteste deste governador?

Isso sem contar as diversas denúncias de superfaturamento em módulos de UPAs, de ambulâncias, de viaturas da polícia (irregularidade comprovada e exorbitante), até em obras de socorro às vítimas de enchentes. São tantas denúncias, que o Ministério Público teria que abrir um setor exclusivo para investigar.

Quanto a isso, deixo abaixo um post de hoje, do blog do deputado Garotinho, que trata do mesmo assunto.

Mas a pergunta persiste: O que estará por trás desta blindagem que Sérgio cabral Filho tem da mídia, especialmente da mídia do Rio, e da base aliada do governo? A conferir...

"Lupi e Cabral: dois pesos e duas medidas
Desde o início do ano, venho tentando, através de um Requerimento de Informação que ingressei na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, , obter informações a respeito das viagens feitas pelo governador Sérgio Cabral em aeronaves particulares, pertencentes a grandes empresários que têm contratos milionários com o Estado.
A primeira negativa ao meu pedido partiu da vice-presidente da Câmara, deputada Rose de Freitas, sob a alegação de que a competência para investigar Cabral é da Assembleia Legislativa. Argumento inconcebível, já que a simples obtenção de informação de quem a detém - um órgão federal - é prerrogativa do deputado federal.
Da decisão da Vice-presidente da Câmara recorri ao conjunto da Mesa Diretora da Casa. Esta também negou, mas sob outro argumento: que a informação deveria ser pedida à Infraero e não à Secretaria Nacional de Aviação Civil, à qual a Infraero é subordinada.
É o fim da picada!
A tentativa de blindar Cabral para protegê-lo contou até mesmo com o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves.
Quanta hipocrisia!
Cobram com razão do ministro Lupi sua viagem num avião pertencente a uma ONG que tem convênio com o seu ministério, mas se negam a fornecer informações sobre as dezenas, quem sabe centenas, de viagens feitas por Cabral, - a maioria delas para o exterior e a passeio - nas aeronaves de empresários e empreiteiros que ganham bilhões do seu governo.
Por que dois pesos e duas medidas?
Será que o que vale para Lupiu não vale para Cabral?
Quero deixar bem claro que não estou defendendo Lupi. Ele que prestes contas dos seus atos. Mas é inadmissível que a Câmara dos Deputados sonegue informação a um dos seus parlamentares, para acobertar os atos ilegais do governador Sérgio Cabral.
Me restam duas alternativas: recorrer ao Plenário da Casa na semana que vem, e caso a decisão seja mantida, ir à Justiça para que a Câmara cumpra o seu papel."

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