rio 2016
Como já era de esperar, o Rio de Janeiro ganhou a disputa pra sediar as Olimpíadas 2016. E ganhou politicamente, não tecnicamente.
Evidentemente Chicago, Madri e Tókio estavam e estão muito mais preparadas que o Rio para sediar um mega evento como este. Madri tem 85% dos aparelhos e equipamentos olímpicos prontos, só esperando pra serem usados. Talvez isso curiosamente tenha sido o determinante para não dar Madri, e sim Rio.
Madri investiu, previamente, em instalações de esporte e em infra-estrutura, já que esta é a segunda vez consecutiva que disputa, e perde, a candidatura para as Olimpíadas. O povo madrilenho não terá muitas razões para reclamar, já que tanto transportes como urbanismo foram melhorados por conta apenas da candidatura.
Tókio é uma metrópole moderna, com transporte, saúde e educação de primeiríssimo mundo, sofre apenas o irremediável problema de superpopulação em um território diminuto.
Chicago é uma cidade riquíssima também, com algumas instalações esportivas, talvez menos que o Rio, mas que conta com uma estrutura urbana invejável, além de ser a terra natal do presidente dos Estados Unidos. É portanto, uma privilegiada.
Já o Rio de Janeiro tinha a seu favor a miserabilidade. Uma cidade grande, de renome internacional, reconhecimento histórico, artístico e paisagístico, mas representante das típicas metrópoles terceiromundistas: pobre, violenta, desorganizada e desigual. E ainda o fato de poder ser a primeira cidade Sulamericana a sediar os Jogos. Acrescente-se ainda a participação da segunda (ou primeira) personalidade mais influente no mundo hoje, um dos líderes naturais do mundo, o presidente Lula, num momento positivo pro Brasil, com crescimento econômico, recebendo o famoso grau de investimento, voltando a figurar entre as 10 maiores economias do mundo, se posicionando globalmente e liderando no G-20.
Tudo isso contribuiu politicamente pra que o Rio fosse escolhido. A vantagem de carecer deste incentivo, ou como disse o presidente, desta oportunidade, de mostrar querer, foi fundamental para superar tanto aquelas cidades que não queriam, como Chicago, como aquelas que não precisavam, Madri e Tókio.
Enfim, fomos escolhidos. A comunidade internacional deu a oportunidade que Lula disse que precisávamos. O nosso projeto Olímpico agora passa a ser o projeto de cidadania. De transformar uma cidade desorganizada, perigosa e violenta, carente e injusta, em uma cidade planejada, harmônica e inclusiva.
Foram apresentados projetos para os transportes, para a segurança, para a urbanização, etc, etc. Mas estes não foram discutidos com a população. O projeto não pode ser destes ou daqueles governantes, mas sim dos cidadãos. O cidadão carioca deve ser consultado sobre o que precisa ser feito pra melhorar a cidade. E eu falo o carioca, não simplesmente o morador da Barra ou de Copacabana. O morador de Parada de Lucas, de Olaria, de Irajá, de Campo Grande, de Sepetiba, de Bangu, de Benfica, enfim, aqueles 70% ou mais que sempre são esquecidos, apagados como cidadãos.
OS PROBLEMAS DO PROJETO
Eu proponho que através das audiências públicas do Plano Diretor seja aberto ao povo a participação nos projetos que sacudirão a cidade para 2016. Eu, como morador de Campo Grande, quero saber o que mudará para mim com tantos bilhões sendo canalizados para estas grandiosas obras.
Os transportes são minha preocupação principal. E me preocupa mais ainda o que está planejado. Estão previstos, pelo menos, R$11.000.000.000,00 para os transportes, mas esta dinheirama toda parece que em NADA vai afetar o morador da Zona Oeste. E o transportes mais eficiente, prático e com o melhor custo-benefício, segundo os especialistas mundiais, não será o foco: o metrô.
A desculpa sempre para não se investir em metrô é que é muito caro, que custa cerca de 200 milhões por quilômetro, e que não há dotação possível em nenhum cidade para um investimento maciço em redes de metrô. Mas desta vez é diferente. Estão previstos 11 bilhões apenas para transportes em uma única cidade, em um período de apenas 7 anos. É um orçamento que nunca vimos, e talvez não veremos ainda neste século novamente. Daria para produzir, por exemplo 55 quilômetros de metrô, ou a distância do centro da cidade até Santa Cruz, e sobraria. Daria para transformar os trens em metrô de superfície, com melhorias das vias, integração da rede ao projeto urbanístico da cidade (não tem coisa mais feia que estes muros decrépitos cortando a cidade inteira), modernização dos trens, com ar, tv, acessibilidade, número e oferta razoável.
Enfim, as alternativas são muitas, só não podem ser desperdiçadas. E é exatamente o que está sendo planejado. O projeto prevê uma diversificação desorganizada dos investimentos. Foi feito por um projetista da Barra, só pode. É como se o bairro fosse o centro do mundo. Todos os investimentos convergem só pra lá. E pior, são investimentos que irão melhorar os transportes só para o morador de lá, e não reorganizar o transporte de toda a cidade. Ou seja, se você mora em outro bairro, e quer ir pra Barra, continuará com dificuldadedes. Só vai melhorar se você mora na Barra.
O projeto pro metrô, originalmente na proposta olímpica, prevê que o Metrô vá até Botafogo (!!), ou seja, vai contemplar um região rica e servida de inúmeros benefícios urbanísticos. É importante, mas só isso? Vão construir o que, 2, 3 estações? E tem os VRTs, que são um projeto bacana, vitorioso em Curitiba, mas que ainda insiste no transporte rodoviário, que está se saturando e não é o mais viável para o futuro.
E os VRTs previstos são um que liga a Barra à Penha, outro que liga a Barra a Magalhães Bastos (o mais perto de atender a ZO), outro que liga a estação final do metrô a ser construída, na Zona Sul, até a Barra (de novo). Não sei de nada pra solucionar a Avenida Brasil, a Linha Vermelha, a Grota Funda e muitas outras vias arteriais do Rio. O que será feito na Leopoldina afinal? O prefeito fala em revitalização da Zona portuária, com a derrubada de parte da perimetral, mas e o que será feito com a Perimetral, com a Francisco Bicalho?
Links sobre o tema:
- http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI96507-17445,00-COMO+SERAO+OS+JOGOS+OLIMPICOS+NO+RIO.html
- http://portalexame.abril.com.br/economia/olimpiada-rio-exigira-investimento-ao-menos-us-14-4-bi-502794.html
- http://colunas.epoca.globo.com/guilhermefiuza/2009/10/02/2016-a-miragem/
PARTICIPAÇÃO POPULAR
E eu trago o problema de novo para o quintal de casa: E eu, como morador de Campo Grande, o que ganho com isso? E o morador de Santa Cruz, de Bangu, de Realengo... e nós, mais de 2 milhões de habitantes eleitores desta região esquecida? Não somos a região “Assistida”, segundo o próprio prefeito? Vou continuar tendo que pegar ônibus superlotado, de uma empresa sequer licitada, monopolista, enfrentar vários engarrafamentos e mais de uma hora de viagem pra chegar ao centro? E um ônibus que é obrigado a dar a volta ao mundo, subir uma montanha inteira, pra poder chegar na Barra, que é logo ali do lado? Metrô nem pensar né?
Enfim, nós moradores da região devemos nos organizar desde já para cobrar nossa parte neste bilionário bolo. Devemos ao menos nos proteger do que eu frisei, no texto anterior sobre este tema, de sermos o subúrbio da Barra, o local de despejo do “novo centro do Rio”.
É necessário que façamos assim como fazem os moradores de Botafogo, de Copacabana, assim como fazem as associações comerciais da Barra: lutar, participar. Temos que inicialmente buscar informações sobre o que está sendo planejado, detalharmos os problemas e propormos alternativas. Precisamos elaborar projetos nossos, consistentes, integrativos.
Vamos nos organizar, marcar reuniões, procurar a subprefeitura, ir às audiências públicas, acionar os parlamentares, e por que não, fazer proposições através de ação popular.
Vamos à luta!
NOTA: Aliás, um detalhe importante foi a presença, lá em Copenhagem, na cerimônia, compondo o comitê brasileiro, do deputado estadual Coronel Jairo (PSC) e do vereador Jorge Filipe (PMDB). Algo que chamou muito a atenção, dentre tantas autoridades como Governador, Presidente, Prefeito, Senadores, Ministros, dois parlamentares locais de nossa região. Estes são os dois primeiros que devemos cobrar.
0 comentários: