Tags

O Exercício da Cidadania.

Após uma pequena pausa nas minhas postagens aqui no blog, devido ao meu início de trabalho no banco, eu retorno com uma matéria que há muito me aflige, e que com as recentes eleições, aflorou ainda mais:


O Exercício da Cidadania.

Ultimamente está muito em alta a palavra cidadania, e frases que envolvam seu radical. Entretanto, muitas destas vezes, a palavra é usada apenas com a conotação assistencialista ou compensatória, e em sua maioria, nada tem a ver com o real sentido de cidadania.

Nesta tragédia que se abateu sobre Santa Catarina, as emissoras de TV e os lideres governistas tem quase cobrado dos brasileiros uma ajuda, uma roupa, etc, para os catarinenses, sobre a ameaça de os que não atenderem a este apelo serem taxados de não-cidadãos.

Mas será mesmo que isto é cidadania? E será que é desta forma que se ativa o exercício da cidadania?

Primeiro, como já disse, cidadania não é apenas “ajudar o próximo”. Obviamente que ter a visão de sociedade una, de que o bem de todos é o meu bem também é essencial ao entendimento das bases da cidadania. Entretanto, esta visão compensatória, de quem dá uma ajuda por misericórdia, nada passa de uma atitude normal do ser humano e de uma imposição social àqueles que pretendem se apresentar como “bons cidadãos”.

Mas cidadania não é (só) isso. Cidadania, na verdade é o ato ou a expertise de se comportar como um citadino, um ser civilizado e comprometido com a sociedade. Aí estão compreendidas as nuances culturais, psicológicas e principalmente políticas.

E por mais que pareçam ser a mesma coisa, não o são. Exemplo disto é que empresas e grandes latifundiários, que diariamente perseguem, expropriam e subutilizam terras e recursos, auxiliando à grande desigualdade social do país e a péssima distribuição de terras, nestes últimos dias tem, com o único caráter comercial, enviado alguns milhares de reais em roupas e outros utensílios mais aos catarinenses. Obviamente, estas atitudes serão muito bem exploradas por suas campanhas de marketing por um bom tempo.

Entretanto, cabe a análise: De que adianta mandar 16.000 litros de água mineral se durante anos tem jogado famílias inteiras à miséria, ao relento e a falta de perspectiva? De que adianta mandar 20.000 reais em roupas se durante anos tem desmatado, poluído e contribuído para desastres climáticos como este?

Enfim, por inumeráveis exemplos, vemos que cidadania não são atos filantrópicos ou de misericórdia simplesmente.

Cidadania é fundamentalmente ter uma visão crítica e ampla da sociedade, da cidade, do estado, da nação. E a partir desta visão crítica, tomar posições: votar, cobrar, participar, não se omitir.

E o que vemos no Brasil hoje é exatamente o contrário do que alardeiam as emissoras de TV: Um desprezo completo pela vida social e pelo exercício da cidadania. Digo isto e lembro que o principal sintoma disto é que a política é hoje, no país, um tema odioso.

As pessoas de modo geral não conseguem ter uma visão crítica da sociedade, e até por isso, preferem se omitir e transferir a culpa de tudo para o ente imaginário e perverso: a política.

Vivendo na era do individualismo, é comum vermos pessoas bradando, sem vergonha e com muito orgulho, de que “se danem” os outros mas que ele tenha o que quer. Visões socialistas, comunitárias e sociais não tem especo neste mundo, e por conseguinte, o exercício da vida social, ou seja, a cidadania, também perde seu espaço.

Esta crise de valores, de princípios é reflexo e sintoma ao mesmo tempo. Reflexo de uma mentalidade que se consolidou há um tempo, e sintoma do que podemos esperar para o futuro, que é a preocupante perspectiva de termos futuras gerações inaptas a sequer pensar em sociedade.

Hoje, temos a dificuldade de agir e pautar nossas atitudes pelo pensamento social, mas para um futuro, podemos ter a dificuldade até de compreender como pensar em sociedade. Afinal, os filhos desta geração aprendem a ser competitivos e a não ver escrúpulos em atitudes egoístas; aprendem a enxergar fraqueza e idiotice em concepções coletivistas; aprendem a usar de um tosco pragmatismo.

Hoje, sabemos que não dá para todos serem ricos, pois isto custa que muitos sejam pobres. Sabemos que os recursos são escassos e que a abundância exagerada destes para alguns NECESARIAMENTE significam a inexistência para outros.

Mas e para amanhã? Serão nossos filhos, nossas futuras gerações capazes de perceber isto, de fazer esta conta simples, entretanto difícil?

Eu sinceramente vejo a urgência de que seja colocado em prática nas escolas a sua real função: preparar para a vida, e a vida em sociedade.

De que adianta uma escola que forma para ser um técnico em informática, um bom mecânico ou que prepara para passar num vestibular, mas não forma um cidadão, forma um ser sem capacidade de viver em sociedade com responsabilidade?

E aí eu vou alem, de que adianta obrigar as escolas a darem meia hora semanal de sociologia e filosofia, se você não ensina realmente através destas matérias o aluno a ser cidadão?

De nada adianta falar de Marx, ou puxar frases soltas de Voltaire, numa decoreba chata e inútil. O que precisamos é que, em TODAS as matérias nós nos preocupemos em ensinar a cidadania. Seja na história, na geografia, na biologia, na matemática, na educação física, nas artes, enfim, em todas. Precisamos de professores capacitados, não meros carregadores de diplomas técnicos, que sabem apenas somar 1+1 com eficácia, ou nomear bactérias por famílias.

Precisamos de uma escola que procure entender seu bairro, sua região, as famílias de seus alunos. Um diretor que não seja um mero conferidor do ponto docente ou um simples carimbador de boletins, e sim, um porta-voz da educação, aquele que vai às casas, faz a união com o bairro, não só numa festinha esporádica, mas em projetos contínuos.

Óbvio que pra isso precisamos que os governos capacitem, tanto financeira quanto intelectualmente, mas uma boa iniciativa, seguida de outras, é que dá o rumo da história.

Não sou velho, aliás ainda sou estudante, mas vejo com desespero as escolas perto de mim, meu bairro, os estudantes nas ruas, indiferentes com a vida social, como se eles não fizessem parte dela. Uma ignorância total quanto a seus direitos e obrigações, um desprezo completo com o futuro de sua região e o seu próprio destino.

Fica aqui um alerta. Cidadania não é produto que se vende, assim como consciência ambiental não é selo verde comprado por fábricas poluidoras.

Acorda Brasil!

Acorda Rio!

0 comentários:

Blogger Template by Clairvo