Nas asas de Eike
Nas asas de Eike
Ricardo Noblat*
Dono de um patrimônio avaliado em 30 bilhões de dólares, apontado pela Revista Forbes como a 8ª pessoa mais rica do mundo, o empresário Eike Batista pode emprestar a quem quiser seu jato Legacy de 26 milhões de dólares. Mas nem todo mundo pode aceitar o empréstimo. Como homem público, o governador Sérgio Cabral, por exemplo, não poderia.
Sabia-se que em outubro de 2009,Cabral voou no jato de Eike para assistir em Copenhague ao anúncio da escolha do Rio como sede das Olimpíadas de 2016.
Soube-se que ele voou no mesmo jato para passar recente fim de semana em Porto Seguro, que culminou com a queda de um helicóptero e a morte de sete pessoas.
Agora se ficará sabendo que pelo menos uma outra vez Cabral voou à custa de Eike.
No mesmo Legacy. E que não foi um voo de ida e volta a algum lugar.Foi um voo cheio de idas e voltas. Um voo excepcional. Que mobilizou o jato de Eike durante uma semana. E que provocou uma canseira braba nos pilotos.
Dia 3 de dezembro do ano passado. Estava de malas prontas para voar em avião comercial com destino a Nassau, nas Bahamas, paradisíaco arquipélago do Caribe, uma parte da família do empresário Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta Construções e de contratos com o governo do Rio no valor de R$ 1 bilhão.
Jordana, mulher de Fernando, um filho de três anos de idade e a babá dele acabaram convidados a acompanhar Adriana Ancelmo, mulher de Cabral, seus dois filhos Thiago e Mateus, e duas outras babás que também viajariam a Nassau. No jato de Eike, o grupo decolou do aeroporto Santos Dumont por volta das 20h.
O voo de Cavendish correu sem incidentes. Com ele seguiram sua mãe, a filha mais velha, o secretário de Saúde do Rio, Sérgio Côrtes, e mais a sogra de Côrtes, a mulher,duas filhas e duas babás.O voo de Adriana Ancelmo e de Jordana pousou em Manaus para que os passageiros apresentassem os documentos de saída do Brasil. E aí…
Aí deu rolo. O filho de Jordana, do primeiro casamento dela, estava sem o documento assinado pelo pai autorizando-o a deixar o país. Agentes da Polícia Federal foram inflexíveis no cumprimento da norma. Não cederam nem diante de um pedido feito por Cabral, que telefonou para eles. Como o impasse foi resolvido?
Simples.
Adriana Ancelmo, os dois filhos e suas babás retomaram o voo para Nassau. Jordana, o filho e a babá ficaram em Manaus à espera do documento que lhes permitiria continuar a viagem. O documento chegou dois dias depois. O jato de Eike, que esperava o desfecho do caso em Nassau, voltou a Manaus.
Dali, com os passageiros remanescentes, novamente voou para Nassau. Faltava alguém para completar a lista dos que haviam combinado passar uma semana de férias no luxuoso hotel Atlantis, de seis estrelas. Quem? Cabral! E lá se foi o jato de Eike buscá-lo no Rio, juntamente com três agentes de segurança.
E outra vez o jato decolou para Nassau. Os Cabral e Cavendish ocuparam duas espaçosas suítes, uma em frente da outra. A diária? Cerca de 800 dólares.
Desfrutaram de dias de sol fraco e de algum frio ao entardecer. Depois de sete dias, a contar da chegada a Nassau pela primeira vez do jato de Eike, teve início a viagem de volta.
Os que haviam ido para Nassau em voo comercial desembarcaram no Rio em voo comercial. Os que voaram nas asas de Eike retornaram em suas asas. O quilômetro voado no Legacy custa R$ 25. Quase seis mil quilômetros separam o Rio de Nassau. Cabral economizou uns R$ 600 mil. Sem contar o trecho Nassau-Manaus-Nassau.
É difícil crer que Cabral tenha encomendado a seus assessores um código de conduta capaz de orientá-lo nas suas relações com empresários. Um código que deverá distinguir entre o público e o privado. Com efeito, seria preciso um código para vetar por imoral a alegre vilegiatura de Cabral nas Bahamas? Por
suposto, não! Cabral, o Pedro, descobriu o Brasil. Que agora descobre Cabral, o Sérgio.
*Ricardo Noblat é jornalista e escreve no ‘Globo’ às segundas, além de manter um blog no Globo Online.
Dono de um patrimônio avaliado em 30 bilhões de dólares, apontado pela Revista Forbes como a 8ª pessoa mais rica do mundo, o empresário Eike Batista pode emprestar a quem quiser seu jato Legacy de 26 milhões de dólares. Mas nem todo mundo pode aceitar o empréstimo. Como homem público, o governador Sérgio Cabral, por exemplo, não poderia.
Sabia-se que em outubro de 2009,Cabral voou no jato de Eike para assistir em Copenhague ao anúncio da escolha do Rio como sede das Olimpíadas de 2016.
Soube-se que ele voou no mesmo jato para passar recente fim de semana em Porto Seguro, que culminou com a queda de um helicóptero e a morte de sete pessoas.
Agora se ficará sabendo que pelo menos uma outra vez Cabral voou à custa de Eike.
No mesmo Legacy. E que não foi um voo de ida e volta a algum lugar.Foi um voo cheio de idas e voltas. Um voo excepcional. Que mobilizou o jato de Eike durante uma semana. E que provocou uma canseira braba nos pilotos.
Dia 3 de dezembro do ano passado. Estava de malas prontas para voar em avião comercial com destino a Nassau, nas Bahamas, paradisíaco arquipélago do Caribe, uma parte da família do empresário Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta Construções e de contratos com o governo do Rio no valor de R$ 1 bilhão.
Jordana, mulher de Fernando, um filho de três anos de idade e a babá dele acabaram convidados a acompanhar Adriana Ancelmo, mulher de Cabral, seus dois filhos Thiago e Mateus, e duas outras babás que também viajariam a Nassau. No jato de Eike, o grupo decolou do aeroporto Santos Dumont por volta das 20h.
O voo de Cavendish correu sem incidentes. Com ele seguiram sua mãe, a filha mais velha, o secretário de Saúde do Rio, Sérgio Côrtes, e mais a sogra de Côrtes, a mulher,duas filhas e duas babás.O voo de Adriana Ancelmo e de Jordana pousou em Manaus para que os passageiros apresentassem os documentos de saída do Brasil. E aí…
Aí deu rolo. O filho de Jordana, do primeiro casamento dela, estava sem o documento assinado pelo pai autorizando-o a deixar o país. Agentes da Polícia Federal foram inflexíveis no cumprimento da norma. Não cederam nem diante de um pedido feito por Cabral, que telefonou para eles. Como o impasse foi resolvido?
Simples.
Adriana Ancelmo, os dois filhos e suas babás retomaram o voo para Nassau. Jordana, o filho e a babá ficaram em Manaus à espera do documento que lhes permitiria continuar a viagem. O documento chegou dois dias depois. O jato de Eike, que esperava o desfecho do caso em Nassau, voltou a Manaus.
Dali, com os passageiros remanescentes, novamente voou para Nassau. Faltava alguém para completar a lista dos que haviam combinado passar uma semana de férias no luxuoso hotel Atlantis, de seis estrelas. Quem? Cabral! E lá se foi o jato de Eike buscá-lo no Rio, juntamente com três agentes de segurança.
E outra vez o jato decolou para Nassau. Os Cabral e Cavendish ocuparam duas espaçosas suítes, uma em frente da outra. A diária? Cerca de 800 dólares.
Desfrutaram de dias de sol fraco e de algum frio ao entardecer. Depois de sete dias, a contar da chegada a Nassau pela primeira vez do jato de Eike, teve início a viagem de volta.
Os que haviam ido para Nassau em voo comercial desembarcaram no Rio em voo comercial. Os que voaram nas asas de Eike retornaram em suas asas. O quilômetro voado no Legacy custa R$ 25. Quase seis mil quilômetros separam o Rio de Nassau. Cabral economizou uns R$ 600 mil. Sem contar o trecho Nassau-Manaus-Nassau.
É difícil crer que Cabral tenha encomendado a seus assessores um código de conduta capaz de orientá-lo nas suas relações com empresários. Um código que deverá distinguir entre o público e o privado. Com efeito, seria preciso um código para vetar por imoral a alegre vilegiatura de Cabral nas Bahamas? Por
suposto, não! Cabral, o Pedro, descobriu o Brasil. Que agora descobre Cabral, o Sérgio.
*Ricardo Noblat é jornalista e escreve no ‘Globo’ às segundas, além de manter um blog no Globo Online.






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