Dilma x Serra. A saga desta eleição:


A eleição 2010 está encerrada. Em algumas horas saberemos quem será o novo, ou nova, presidente do Brasil. E desta vez, certamente não será Lula, para tirar o frio da barriga dos grandes empresários e da direita em geral, e para apreensão da esquerda.
Dia 1º de Janeiro de 2011 será ou Dilma, ou Serra. E por quatro anos. Obviamente vou esperar o resultado para comentar, mas é preciso antes discutir o que nos trouxe até esta escolha entre a primeira mulher com reais chances de ser eleita e a volta ao poder dos tucanos, na derradeira tentativa de José Serra.

Esta eleição começou a 5 anos atrás, antes da reeleição de Lula. Estávamos em plena crise do mensalão, e a oposição adotou a tática do “let burn all”. Teve nas mãos a oportunidade de caçar o prsidente trabalhador, eleito pelos pobres como um messias e enterrar de vez as máximas de governo do povo para o povo. Mas optou por levar tudo, não queria só ganhar, queria humilhar, tripudiar e enterrar de vez o PT e a esquerda em geral. Optou por cozinhar Lula num Congresso esfacelado, envolto em denúncias de corrupção, suborno e propinas. Achavam que chegariam ao ano seguinte com Lula desamparado, sem |PMDB, PTB, PL e nenhum outro apoio que lhe garantisse chances na disputa eleitoral.

Achando assim, preferiram desencadear uma guerra interna, que segundo Sérgio Guerra, era a verdadeira eleição daquele ano: Serra ou Alckmin. Qual dos dois o PSDB elegeria para ser o presidente que o povo aclamaria nas urnas? E a disputa teve todos os requintes de uma eleição de fato: dossiês, cobertura total da mídia, verba de campanha, debates com regras rígidas, alianças políticas, divisão de benesses antes da eleição para aqueles que trouxessem mais votos... enfim, como disse o presidente atual dos tucanos, foi a eleição! Bem, era o que eles achavam.

Como sempre diz Lula, nunca antes na história deste país, um presidente soube ser maior que o próprio  partido, que o Congresso e não sucumbir ao poder. Lula parace ter visto uns 5 anos a frente em sua bola de cristal, e tomou a difícil decisão de cortar a cabeça de todos os líderes que o apoiavam. Caiu Dirceu, Gushiquem, Pallocci, Genoíno, Delúúúbio (quem me conhece entende...) e por aí vai. O primeiro e até diria eu o segundo escalão foram pro saco. Ele assumiu tudo sozinho, e convenceu o país que havia sido traído (sem contudo nunca ter dito isso) e que a partir de agora só ele mesmo poderia reconduzir a nação ao rumo certo pra longe da volta da ditadura, ou das “zelites”. Começou ali a traçar um novo rumo para o governo e para o partido. O campo majoritário do PT agora era sinônimo de corrupção, como “xerox” é de fotocópia, quase não se sabia qual a  diferença semântica.
Assim, ele estava agora acima do partido e das forças congressuais e estatutárias deste. Escolheu pessoas sem currículo político e, claro, sem votos, para ocupar os ministérios e secretarias. Foi ele mesmo buscar apoio na base desalinhada, chamou o PMDB e lhes disse: agora vocês são governo! Faltando meses para a eleição, ele era a única saída para a esquerda, e sabia disso. Correndo por fora, só Ciro Gomes, no PSB, e Garotinho, no próprio PMDB, mas sem conseguir o milagre de transformar o PMDB num partido, e não em vários, como sempre foi.
Ciro era aclamado por onde ia, era a jóia da coroa socialista, mas não tinha tempo de TV e nem um partido minimamente corajoso para bancá-lo. Garotinho foi sabotado pela ala fisiologista do PMDB (não, não são os 99% que estou falando, é só os caciques) liderada por Sarney e Renan Calheiros. Lula então, construiu naturalmente seu nome como única alternativa, quase messiânica.
O PSDB agora já se preocupava um pouco, pois a guerra interna tinha deixado mágoas e desgastes, e o partido não vinha mais com a força que achava que tinha. Além disso, a fritura que planejavam no governo já não funcionava mais, e mesmo com novos escândalos sendo preparados ou requentados, não faziam mais impacto na opinião pública.
O resultado, todos sabem, Lula foi reeleito no segundo turno, e agora só não mandava sozinho porque tinha que tomar café da manhã, almoço e jantar com Sarney e Renan Calheiros. Dentro do governo e do PT, não havia ninguém, era um vácuo. E a preocupação já existia no dia 2 de Janeiro, pois em política, como sabem, o mais importante é manter o poder, e o primeiro ato depois de ser eleito, é preparar a próxima eleição. Quem seria? O PDT se mexia, achando que poderia agora fazer um bloquinho com o PSB e PCdoB. O PSB também, só que com Ciro. Até o PCdoB achava que podia fazer graça. Os PMDBs não achavam nada, estavam felizes e contentes preenchendo as fixas de indicação nas estatais e etc.
Começou então a novela do terceiro mandato. Quem poderia suceder Lula? Quem sucederia o gênio popular? Talvez Pelé... não, não, ele não tem tanto carisma e apelo popular... Quem então? Ah, sim, Lula! O PT queria, a mídia dizia, a oposição se contorcia, Chávez apoiava... sim, só podia ser Lula de Novo com a Força do Povo!
Mas Lula manteve em banho-maria. Foi governando e construindo silenciosamente sua candidato. Uma certa ministrazinha que nem foto teve publicada em jornais quando sucedeu a bombástica queda de Zé Dirceu. Ela sempre estava lá, nas reuniões ministeriais, mas deviam achar que era uma secretária, uma servidora do Palácio do Planalto. Algumas vezes ela dava entrevista a meia-dúzia de jornalistas que após perguntarem ao cerimonial, descobriam quem era a ministra chefe da casa civil.
E aí, não se sabem bem onde nem quando, ela começou a aparecer em todos os eventos. Alguma fonte interna vazou que Lula poderia não concorrer (BLASFÊMIA!!!) e que a Dilma Roussef, pois naquela época ela era uma ilustre desconhecida, não era tratada intimamente só pelo primeiro nome, poderia ser a candidata do PT. HAHAHA!!! A oposição ria e mais uma vez achava que já tinha ganhado! Uma crise mundial prestes a se abater no Brasil, o PT ia de Dilma num-sei-que-lá e desta vez o tucanato estava unido, quem sabe por uma chapa puro-sangue, ou melhor, café com leite: Serra e Aécio.
Mas a crise foi mesmo uma marolinha aqui, os resultados econômicos e sociais eram cada vez melhores e surpreendentemente Dilma crescia nas pesquisas. O maior alento do PSDB era Ciro ser candidato e deixar Dilma pra trás, ou ainda, ela ser um desastre público com sua inexperiência eleitoral.
Começaram a eleição com aquela coisa de time grande contra time pequeno: Na hora certa a gente faz os gols e vira o placar, calma, calma. Mas o tempo passava, passava, e surpreendentemente Dilma também passou Serra. Não foi um fiasco como eles esperavam a apresentação pública de Dilma, e Serra provou ser um político aquém de suas pretensões e de sua fama; Não conseguia vencer uma pessoa que nunca tinha disputado nem debate pra síndico de prédio. Marina foi um fator decisivo neste xadrez, e Plínio fazia os debates serem tão imprevisíveis que tiravam a atenção do candidato de oposição que ali estava pra ser oposição, mas não sabia como. E Plínio deitava e rolava.
Na reta final do primeiro turno era dada como certa a vitória de Dilma, mas uma polêmica que tratarei num próximo post, o aborto e a religiosidade nas eleições, além do crescimento mais que esperado, ao menos por mim, de Marina Silva, que também gostarei de tratar no próximo post, fizeram este segundo turno, que se encerrou a 52 minutos atrás no Brasil deste fuso horário.
Assim, chegamos a eleição entre Dilma, e o Zé, que depois voltou a ser Serra-do-bem, numa versão pitoresca de Lulinha-paz-e-amor. Não adianta se indignar, xingar a democracia, mandar e-mails pro Bolsonaro e pedir pra ele preparar a volta dos militares, não adianta dizer que o Tiririca podia ser o presidente. Ou é Dilma, ou é Serra. Saberemos antes da meia-noite deste crepuscular dia das bruxas!

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