A apatia nacional, que assiste a novela Bruno e cega para seus próprios problemas.
Me surpreende a forma como a sociedade brasileira ainda não mostra sequer resquícios, pequenos sinais, de maturidade. Ainda somos um bando impressionável, irascível, pasmacento e abrupto ao mesmo tempo.
Temos uma facilidade de acompanhar novelas policiais pelos telejornais dias, semanas, meses a fio, convictos desde o primeiro dia que o culpado é fulano, o mesmo fulano que os editores (meia dúzia de brasileiros deformadores de opinião alheia) elegeram por ser mais rentável (ou seja, aquele que afronta mais repugnantemente o status quo social, o pai, a mãe, o famoso, o crente, o político que não lhe beneficia...) às vendas dos jornais. Esta facilidade é correspondente ao nosso imobilismo social.
A mesma intensidade que leva donas de casa, desempregados e transeuntes em geral irem para a porta das delegacias e fóruns, como feras prontas pra linchar o suposto culpado à margem das leis que nos regem, é a mesma intensidade com que menosprezamos a constituição destas leis, ou a mesma intensidade com que acreditamos que os problemas de fundo da nação, os coletivos, são coisas insolúveis, e assim aceitamos o receituário dominador de que melhor é empenhar-me para minimizar meus danos pessoais.
As tvs, jornais e revistas, assim como a maioria dos grandes portais de notícias da Internet só falam no “caso Bruno”, ou no caso Mércia. Ao mesmo tempo, acontece no Sul um crime bárbaro, incluindo todos os ingredientes que a mídia sempre baba de prazer: pedofilia e famosos. Entretanto existe um fermento explosivo, que dá asco na grande mídia nacional: envolvimento dos barões da mídia no caso e risco de abalar a perene e indiscutível imparcialidade dela mesma, a mídia. É o caso de uma menina que sofreu abusos de jovens ricos, filhos dos donos da rede RBS, uma das maiores do Brasil, filiada e retransmissora da Rede Globo no sul do país.
Houve de tudo. Até a polícia teve uma atitude suspeita. O delegado chegou a suspeitar e lançar acusações e insinuações repulsivas contra a vítima. Admitiu que encontrou todos os indícios que normalmente apontam estupro, mas, surpreendentemente lançou uma dúvida se a menor não teria consentido com o ato. E baseado nesta afirmação estapafúrdia, decidiu NÃO indiciar os barõezinhos da mídia sulista em pedofilia e estupro.
Nem mesmo as postagens em sites de relacionamento no qual os rapazes ameaçavam outras menores e se vangloriavam de outros estupros foram capazes de fazer com que a mídia nacional se interessassem pelo caso. Claro, seria tiro no pé. Logo em período eleitoral colocar em dúvida a inabalável imparcialidade do incorruptível baluarte da lisura e democracia nacional? Ora!
E o povo continua se divertindo com o caso Bruno. Chora, ri, sente raiva, ansiedade, até exercita a dúvida, mas tudo centrado apenas neste caso. Nada mais em redor.
É de surpreender que nem mesmo o caso de um garoto ter sido morto por um tiro em operação policial DENTRO de sala de aula tenha chamado atenção. Wesley Gilbert Rodrigues de Andrade, de 11 anos, escrevia exatamente um texto no qual apontava para pesquisa do Globo qual o maior problema da região: os tiros.
Obviamente, foi um momento delicado para a imprensa oficial do Rio: a Globo. Ela estava lá empenhada em fazer jus ao MEIO BILHÃO gasto pelo governo Cabral com a imprensa carioca no último ano, preparando uma pesquisa que daria certamente apoio a uma futura instalação de UPP naquele morro, quando exatamente a política de segurança genocida de Cabral mata um de seus pesquisados! Que fazer?
Primeiro, é o abafa. Todos os holofotes pro “caso Bruno”. Depois a constatação de que não seria possível esconder este caso como tantos outros, pela dimensão dele. Então, vamos falar do caso, pondo em dúvida se foi a polícia ou não. Se fosse um mês atrás, onde ainda estava com namoro rompido com Eduardo Paes, seria fácil arranjar um jeito de culpá-lo.... mas agora!

No dia seguinte, pululavam em sites, blogues e acima de tudo, na Folha de SÂO PAULO o fato de Cabral estar ignorando o caso. Um vídeo do pai da criança dizendo que Cabral não se importava pois andava de carro blindado também veio a tona. Aí, a Globo correu, ligou pr Cabral, marcou um encontro do governador com o pai da vítima, e montou uma entrevista relâmpago com este pai, pra que esse aparecesse, quase sem falar, indo pro encontro com o benigno e magnânimo governador.
Palmas pra Sergio Global.
O resto da mídia o que faz? Sei lá, assiste. Alguns até falam algo, mas quem ouve? O Dia está num desânimo. Indo pro caminho do JB, que esta semana anunciou seu fim, sem qualquer choro ou corporativismo do resto da mídia. Extra? É do Glbo também (fora a página da Berenice Seara, uma corajosa). E o Expresso? Óóh... é da Globo também! E o Meia Hora? Do O Dia.
E o povo acha que tem opções, que tem diversificação de informação.
Enquanto isso, aos poucos que como eu lêem jornais de outros estados e dezenas de blogs e sites jornalísticos independentes, resta espernear on line, clamando contra este triste caminho de dominação Goebeliana (by Goebels) de repetir uma mentira mil vezes até torná-la verdade. Estupefatos estamos, de ver a apatia brasileira, tão bem apanhada por Wanderley dos Santos, caminhar para um imobilismo e um fanatismo que nos presentearam, meio século atrás, com a ditadura militar.
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