Um RIO de descaso e abandono
Em primeiro lugar, meus sinceros sentimentos a todos que sofreram e ainda sofrem com a tragédia que se abateu sobre o Rio de Janeiro esta semana. Fui salvo de ficar no “olho do furacão” por pouco, quando percebi que as alagações que encontrei perto da UERJ só aumentavam, e decidi voltar para casa a tempo.
Ainda hoje vemos notícias de mortes, desabrigados e desmoronamentos, e o momento ainda é de comoção e solidariedade. Entretanto...
É necessário tirar de tudo isso, com a cabeça fria, lições importantes, assim como fazer constatações indispensáveis.
Não é segredo para ninguém que estou muito desiludido com a capacidade deste Governo Estadual de gerir o Rio em situações normais. Mas esta tragédia apenas me confirmou a certeza de que a única coisa boa de tudo que vivemos no Estado hoje é que teremos a oportunidade de tirar Cabral do poder em outubro. De resto, são só lágrimas e desespero.
Cabral conseguiu chorar pela perda dos royalties, na qual ele tem significante parcela de responsabilidade, mas foi incapaz de derramar uma lágrima pelas centenas de mortes ocorridas nesta catástrofe por que passamos. Sequer uma palavra de consolo... pelo contrário, acusou vilmente os flagelados pela sua própria tragédia. Eximiu-se de qualquer culpa, eximiu-se até de seus deveres como humano. De um lado, diz não ter culpa de a população construir suas casas em lugares perigosos, de outro, diz que falha do Poder Público, o qual ele representa, é de outros governantes antigos, apesar de ele mesmo nada ter feito para resolver esta situação, mesmo agora, aos 45 do segundo tempo de seu governo.
Neste momento, vejo na TV Brasil um depoimento que resume tudo que disse acima:
“ Na eleição, sobem o morro, entram nos barracos pra pedir voto. Depois de eleitos, quando acontece a tragédia, viram as costas pra gente e ainda dizem que a culpa é nossa! Na hora de pedir voto, o morro não era área de risco não, né?”
Perfeito. Nenhum Cientista Político diria com mais propriedade e concisão do que esta senhora, de nome Maria José, moradora da Mangueira.
O que não adianta é Cabral ficar chamando de irresponsáveis, os moradores que vivem em áreas de risco, simplesmente porque estão lá não é por gostarem e sim por necessidade. A relatora da ONU para o Direito à Moradia, Raquel Rolnik criticou Cabral dizendo o óbvio: “Ninguém mora numa área de risco porque acha bacana, lindo, agradável. Me parece um contra-senso, como se morar num lugar de risco fosse uma opção. Não é uma opção. É uma falta de opção”.
Alerto agora para o comportamento do senhor Governador Sérgio Cabral desde terça-feira até hoje: Na terça, de manhã, após a tragédia, só apareceu após as 10 da manhã, e mesmo assim por telefone. Ao ser questionado sobre a aplicação dos recursos de prevenção de acidentes, mandou o repórter falar com os técnicos do governo, e não com ele.
Não mudou sua agenda normal, e só saiu de casa para encontrar Lula no Copacabana Palace, em evento já previamente marcado. Depois, voltou pra casa. Na quarta, nenhum sobrevôo no Rio, não colocou o pé na lama. Segundo ele, estava cuidando do Rio de dentro do Palácio Guanabara, vulgo sua casa.
Hoje, Cabral, pasmem, tirou o dia para descansar. Pediu “folga”!!! A única vez que saiu para ver o que acontecia fora dos portões do palácio, foi de helicóptero para um encontro com o Ministro da Integração Nacional, João Santana, chegou com uma hora e meia de atraso (FOI DE HELICÓPTERO!!!) e ao chegar, puxou um funcionário da Defesa Civil pro canto pra perguntar o que acontecia ali! Não sou eu que digo, está nos jornais, em todos! Só após isso, hoje a tarde, 72 horas depois do acidente, Cabral encontrou seu “aliado” Eduardo Paes. 3 dias depois! E o último compromisso dele hoje, em meio à catarse, é uma festa para publicitários e comunicadores (aqueles que ele enche de dinheiro pra ficar bem na mídia, sabe). Isso meu amigo, Festa! Vamos brindar a desgraça da população. Deixe para os técnicos e para os bombeiros cuidarem dos feridos, mortos e desabrigados! Vamos festejar!
Minha ironia amigos, é de raiva. De indignação! De repulsa a esta pessoa incompetente e insensível!
Bem, aos que pensaram aí que realmente são os bombeiros que retiram os corpos e salvam as vítimas e que são os técnicos que fazem os planejamentos, eu destaco a função precípua do governador: Gerir, dirigir e defender o governo. Sua função agora é arregaçar as mangas e vistoriar as equipes, ligar para os secretários, os prefeitos, os ministros.
Aliás, insiro aqui outra mostra de sua incapacidade e desprestígio:
Apesar de cantar em verso e prosa sua união com o Governo federal e o Municipal (este que ele só falou 72 horas depois), Cabral tem contra si números e fatos que o desmentem retumbantemente:
Das verbas liberadas pelo Governo Federal para contenção de enchentes, o rio só recebeu 0,4% do total nacional. Nem meio por cento! E da verba prevista no PAC para o Rio de Janeiro de 2007 até 2009, só 5,2% tinham sido aplicadas até o fim do último ano. Agora Cabral e Paes, juntos, pediram, clamaram, 370 milhões ao Governo Federal, mas só receberam 200, ou seja, quase metade. O Governo Federal disse que prefere ajudar com pessoal e investimentos diretos, ou seja, naquilo que Cabral não pode meter a mão e estragar. Pura confiança, né?!
Cabral não sabe que é função dele centralizar as decisões agora. Não sabe que quem deve organizar a aplicação dos recursos, buscar fontes alternativas de ajuda e tudo mais é ele! O prefeito também mandou a população ficar em casa, não ir trabalhar, que os patrões iriam entender, mas não fez a parte dele, declarar estado de emergência o que compulsoriamente resguardaria a todos os trabalhadores. Lavou as mãos totalmente.
Aliás, diga-se passagem, o Governador primeiro disse que o Rio não precisava de nada, estava tudo sobre controle. Esnobou a ajuda ofertada por Lula. Depois, pediu socorro. No Haiti o Brasil enviou mais de mil homens, pro Chile, país rico, enviou quase 300, já pro Rio, Cabral só quis 80. É, valemos pouco mesmo. É por isso que querem tirar nossos royalties, afinal, não precisamos de ajuda, somos podres de ricos, né.
Enfim, até agora a população está contando com ela mesma para se salvar. As igrejas e clubes é que estão acolhendo os desabrigados, afinal, o próprio Cabral respondeu rispidamente que o Estado estava ofertando auxílio aos desabrigados através da ajuda das vilas olímpicas de escolas de samba! Sequer lugar para acolher as vítimas Cabral disponibilizou. E escolas e prédios públicos é o que não lhe falta.
Na ausência ou demora da Defesa Civil, que faz triagem de quem vai entender, são os próprios vitimados que socorrem os em pior estado. Cabral primeiro disse para as pessoas não ligarem “por qualquer coisa para a Defesa Civil”, pois a mesma não poderia atender a demanda total, apenas os casos “realmente graves(?)”. Depois, inquirido por um jornalista, afirmou outra vez com repulsa à pergunta, que o Estado tem todos os homens de que precisa para atender a população, que o atendimento é exemplar e irretocável.
Dá pra entender?
Enquanto isso, Cabral só se importa com as eleições deste ano. Aproveitou o encontro com Lula pra pedir “exclusividade” na eleição estadual. Evidentemente Lula desconversou e se desvencilhou dele, como se faz com um conhecido incômodo. E hoje, tem festa marcada com os barões da mídia, talvez para acertar as bases do apoio midiático para o resto do ano.Pobre do Rio. Pobre de nós. E mais pobre daqueles cariocas e fluminenses que estão sofrendo na pele o descaso do governador.






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