Excrescências do Movimento Estudantil

NOVE- Nova Organização Voluntária Estudantil. É assim que doze alunos de colégios da Zona Sul denominam sua mais nova forma de brincar de RPG, quer dizer, de dominação de classe.



Reunidos num playground de um condomínio de Ipanema (!), A PEDIDO DA GLOBO, os alunos de colégios como Santo Inácio e São Bento se esforçaram para mascarar sua própria identidade. Pediram uns pros outros pra não usarem os uniformes dos colégios, para não se caracterizarem como Zona Sul, apesar de serem. Que fossem de camisas brancas, assim como todos estes movimentos reacionários elitistas que tem na Zona Sul.



Sentados em roda, justificaram para a reportagem da Globo, que o motivo de terem se reunido inicialmente foi o atraso no Enem. Emendaram em seguida que a educação não é algo inerente à política, ou seja, à vida pública. A educação, na visão deles, é cada um lutando pela sua, ou então, sentar à mesa sem colocar os cotovelos na mesma. Só pode ser isso.



Fizeram ataques à UNE e UBES, coisa que está realmente na moda, já que estas duas entidades históricas há anos realmente não conduzem a luta dos estudantes para além dos muros estudantis. Mas foram além. Diferente dos ataques padrões, como do PSTU e Cia Ltda, não propuseram qualquer outra alternativa de organização, e sim a desmobilização. Dizem não ter necessidade de uma entidade nacional para conduzir as lutas estudantis. A luta, pra eles chamada de participação¹, deve ser travada de forma atomizada, ou seja, cada colégio, faculdade, ou até cada estudante deve fazer a sua parte sozinho, porque no final isso é o melhor para o conjunto. Uma máxima muito bem conhecida do liberalismo clássico.





Mas o que chama mais a atenção é que com cinco dias de fictícia existência, o NOVE diz ter contatos com 24 colégios, além do eixo Zona Sul, e já deu entrevista para o Globo, publicada com destaque de meia página na capa, e com uma página inteira no interior, no primeiro caderno. Não que seja um decreto de morte ideológica dar entrevista pra Globo, já que eu mesmo já dei ao RJTV, quando coordenador do Grêmio da ETESC, mas fazê-lo num play, sem qualquer luta ou reivindicação social por trás, simplesmente porque está entediado do Wi ou do twitter não dá.

Isso mostra como o ME de luta de verdade está perdendo espaço. Mostra como a burocratização e o distanciamento da base fez com que aberrações assim não só se formam, mas se aliem a outro setores reacionários da sociedade. Se o povo não se ‘une’ e abre mão de se organizar praticamente, as elites dominantes fazem-no exemplarmente.



Mas isto mostra também quanto a Globo teme uma ressurreição do Movimento Estudantil de luta, como aquele que ela fingiu não ver nos Diretas Já. Ela tenta criar o seu próprio ME, pré-moldado pras elites, com o pensamento liberal, que nega as desigualdades sociais e quer que tudo continue como está, ou pior.

2010 será um ano crucial, e a desorganização e as lutas intestinais do ME podem fazer com que estes tipos de movimentos reacionários tomem a frente e as mentes da população.



Temos que encarar isto como um ultimato a nos reorganizarmos, a deixarmos picuinhas de correntes de lado e apostarmos as fichas na manutenção e aprimoramento do projeto de nação que vem sendo construído desde 2003.

Samuel Braun.

¹- Participação sim, porque no seu entender, a educação deve ser realizada não para a conscientização social em busca da igualdade humanitária socioeconômica, mas sim para uma melhor participação na exploração do homem pelo homem. Daí o apelo muito atual na educação de preparar “pro mercado de trabalho” e não pra visa em sociedade.

Um comentário:

  1. Esse projeto de nação que vem sendo contruído desde 2003, como você disse, é um dos principais responsáveis pelo surgimento desse tipo de "mobilização".

    Ao emperrar as lutas dos movimentos sociais (trabalhadores, estudantes, sem-terras), por conta de uma agenda positiva para o Brasil. O PT e a esquerda democrática (digamos assim), permitiu que a reação se levantasse e o próprio pensamento do modelo neo-liberal do "cada um por si" viesse a tona.

    Por isso surge a CPI contra o MST, por isso as greves dos trabalhadores não tem sido eficaz como meio de luta e a participação cada vez menos ativa...e por isso surge NOVE e outras excrecências por aí.

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